23 de junho de 2008

APRESENTAÇÃO

Contar de histórias recupera uma comunicação pessoal que parece não combinar com o mundo rápido e informatizado da atualidade, essa comunicação particular é feita ao vivo, de pessoa para pessoa. O contador de histórias retorna a esse lugar humano de compartilhar experiências e idéias através das narrativas e da relação com o imaginário. É uma das atividades mais antigas do mundo. É uma prática fundamental de qualquer comunidade. Sem elas talvez não estivéssemos conscientes do nosso passado nem das nossas relações com o próximo ou com o mundo.

O trabalho do pequenoteatro mistura na sua estrutura de trabalho duas linguagens artísticas que primam pela necessidade da comunicação com o público, duas linguagens artísticas que trabalham para mobilizar no espectador essa comunicação tão necessária nos dias de hoje. Unindo a experiência do palhaço com o ato de contar histórias, nossa busca é transformar a narrativa de histórias em um jogo com a platéia. Nesse jogo de contar histórias o ouvinte é convidado a colocar a imaginação trabalhando, ele completa com a sua experiência as imagens criadas, que necessitam do espectador para tomar forma, eleparticipa no momento da performance como um interlocutor. O espectador é convidado a conversar com a história e brincar com ela, afinal “ninguém escapa de uma boa história”.

Contar histórias é uma arte em si, não é literatura nem é teatro. O trabalho do contador de histórias no pequenoteatro é elaborado a partir da prática da bricolagem, influenciado pela prática narrativa do mestre Griot Sotigui Kouyaté. Os contadores trabalham como artesãos, misturando técnicas artísticas diversas para construir uma rede de comunicação expressiva com os espectadores, uma comunicação que se dá não só pela palavra dita mas por todo um conjunto de jogos corporais e sonoros que se somam construindo uma estética de trabalho onde o corpo comunica tanto quanto o texto. O corpo é utilizado aqui como o instrumento principal para a construção da narrativa. A palavra ganha forma no corpo do contador, e esse traz consigo um jogo de entrar e sair da história. O que chega aos ouvintes é um contato não só com o conto narrado mas também com a própria pessoa do contador, que mistura sua história pessoal e sua forma de ver o mundo aos eventos do conto.

Trabalhando para que a experiência transmitida no relato seja comum ao narrador e aos ouvintes. O ato de contar histórias é considerado um procedimento que investiga a natureza artística mais profunda, a natureza que tem a necessidade de dizer, de se comunicar, de entrar em contato com o outro. Dessa necessidade nasce a capacidade do indivíduo encontrar seus próprios conteúdos e se conectar com aquilo que realmente o afeta. Sempre que um contador de histórias começa a narrar, estabelece uma relação de afeto com quem o escuta, abrindo uma porta para o mundo criado, permitindo aos ouvintes construir imagens, refletir sobre conteúdos, passear por emoções.

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